Localizada em Balneário Camboriú, a cerca de 80 km de Florianópolis, a Praia do Pinho é um verdadeiro paraíso natural e o primeiro destino de naturismo do Brasil. Reconhecida tanto por sua beleza cênica quanto pela filosofia de vida dos seus frequentadores, a praia tem uma história única e marcante que a tornou um símbolo da liberdade e respeito à natureza.
Com 500 metros de extensão, a Praia do Pinho é rodeada por costões e montanhas, com uma vegetação quase intocada que garante total privacidade e isolamento. Suas águas claras e ondas fortes atraem, além dos naturistas, aqueles que buscam um ambiente tranquilo, de contato direto com a natureza. No entanto, a verdadeira fama da praia só surgiu após 1983, quando a prática do nudismo começou a ganhar destaque local.
Os Primeiros Pioneiros: 1983 - O Início do Naturismo
Nos primórdios, a praia era deserta e pouco acessada, o que proporcionava aos primeiros naturistas um lugar de privacidade. Entre os pioneiros, estavam algumas dançarinas da famosa casa de shows da cidade, Mário’s House, e casais que decidiam se aventurar na prática do naturismo. Na época, a ideia de despir-se em um local público como aquele gerava desconforto e era mal vista pelo proprietário das terras próximas, Domingos Fonseca, um empresário e pai de sete filhos, muito religioso e contrário ao nudismo. Ele chegou a expulsar os naturistas que por lá passavam.
A Popularização Nacional
A virada para a notoriedade nacional da Praia do Pinho aconteceu com uma matéria publicada em 1984 na extinta Revista Manchete, com o título “TODO MUNDO NU EM CAMBORIÚ”, assinada pelo jornalista Tarlis Batista. A reportagem expôs para o Brasil o surgimento do único destino de nudismo do país, trazendo à tona o interesse de curiosos e turistas que começaram a frequentar a praia.
Apesar da fama repentina, a repercussão não agradou a todos. Politicamente, a cidade foi dividida: enquanto alguns viam a visibilidade nacional como uma chance de promover o turismo, outros, como o vereador Rúdis Cabral, eram veementemente contra a prática e exigiram medidas para coibir o nudismo na região.
A Transformação da Praia e o Crescimento do Movimento Naturista
Com o aumento da procura e a pressão popular, Domingos Fonseca, incentivado por alguns naturistas e reconhecendo uma oportunidade de negócio, mudou sua postura. Ele parou de reprimir a prática e iniciou a construção de uma pousada e restaurante na área, visando atender o crescente número de naturistas.
Em 1985, o número de pessoas frequentando a praia chegou a duzentas, o que gerou uma mistura de entusiasmo e polêmica. O naturismo, que antes acontecia de forma clandestina, se tornou um movimento cada vez mais forte e visível. Foi nesse momento que surgiram as primeiras divisões de opinião: o secretário de turismo da época, Osmar Nunes Filho, defendia que, desde que praticado de forma reservada e sem prejudicar os bons costumes, o naturismo seria um benefício para a cidade, ao mesmo tempo em que os opositores viam a prática como um risco para a moralidade pública.
O Conflito e a Luta por Legalização
A tensão culminou em 1986, quando uma operação policial prendeu 25 naturistas na praia, em uma ação coordenada pelas polícias Militar e Civil. As autoridades locais, de um lado, tinham uma postura rígida em relação à prática do nudismo, mas, do outro, o secretário Nunes Filho defendia a liberdade e o respeito aos naturistas.
Em resposta ao aumento das tensões, o movimento naturista se organizou oficialmente. Em 1986, o gaúcho Celso Rossi e outros idealistas fundaram a AAPP – Associação Amigos da Praia do Pinho. A associação tinha como objetivo lutar pelo reconhecimento da praia como uma área oficial para a prática do naturismo e garantir a ordem e o respeito entre os frequentadores. A AAPP estabeleceu regras de convivência e se tornou um pilar para aqueles que queriam desfrutar da praia de forma ética e responsável.
Mudanças e Consolidação
A partir de 2005, a AAPP passou a administrar apenas o “Paraíso da Tartaruga”, um condomínio naturista localizado nas proximidades da Praia do Pinho. Desde 2004, as atividades comerciais da praia foram transferidas para o Complexo Turístico Praia do Pinho LTDA, que passou a cuidar da infraestrutura e dos serviços da praia.
Hoje, a Praia do Pinho é considerada a melhor estrutura naturista do Brasil, oferecendo aos visitantes pousada, chalés, cabanas, bares, estacionamento amplo e até mesmo uma área de camping com capacidade para 200 barracas. A praia se mantém como um refúgio para os naturistas e se orgulha de sua história, sendo referência para todos aqueles que buscam um ambiente de liberdade, respeito e harmonia com a natureza.
O Legado de Respeito e Liberdade
A Praia do Pinho, que começou como um simples refúgio para alguns pioneiros, tornou-se um símbolo do movimento naturista no Brasil. Seu legado vai além da prática do nudismo; ele reflete uma filosofia de respeito à natureza, à liberdade individual e à convivência pacífica. Para os adeptos do naturismo, a praia é um lugar onde podem viver a sua filosofia de forma autêntica, sem julgamentos, enquanto desfrutam das belezas naturais de uma das regiões mais deslumbrantes de Santa Catarina.
Visitar a Praia do Pinho é, sem dúvida, uma experiência única que proporciona aos turistas a oportunidade de se conectar com a natureza de uma maneira íntima e transformadora.
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